Fundamentos, Princípios e Aplicações Práticas de uma Pedagogia Espírita


Tendo por referência uma releitura mútua da Pedagogia e do Espiritismo, cada uma dessas ciências sob a luz da outra, compartilhamos a seguir o sumário dos fundamentos, princípios e aplicações práticas de uma Pedagogia Espírita, cuja definição completa encontra-se na referência ao final desta página:

Fundamentos:
1. O ser interexistente: o ser existe além das dimensões físicas e visíveis, porque se expande em espírito no tempo  e  no espaço. 

2. A  criança  é  o  ser  que  recomeça  a  existir  na  Terra  e  está temporária  e  parcialmente  adormecido, tornando-se  receptível  às sugestões de uma nova educação.

3. A  vida  é  fenômeno  espiritual  que  se  manifesta  desde  o movimento  das  partículas  subatômicas  até as  rotações  das  galáxias, desde o protozoário no fundo do mar até as fulgurações da inteligência humana.

4. O  mundo,  entendido  como  o  planeta  Terra,  é  uma  moradia temporária entre os infinitos mundos do universo, destinados a servir de habitat  educativo  às  almas  em  ascensão.

5. A  educação  é  o  processo  permanente  de  aperfeiçoamento  do Espírito, é o despertar de suas potencialidades, a realização gradativa de sua divindade e não apenas numa dada existência, mas eternidade afora.

6. O  educador  deve  ser  ... o  agente  de  mobilização  da vontade  de evolução  do  educando.  É  o que observa  atentamente, amando com intensidade o ser-educando, e descobre como atingir o seu âmago, para tocar sua essência divina e deflagar um processo de auto-educação.

Princípios:
1. O Amor é primeiro e máximo princípio de uma Pedagogia Espírita - é  o que move  o  Espírito, despertando-lhe  a  vontade  de ascensão.

2. O  respeito  à  liberdade  do  ser  é  conseqüência  do  amor. 

3. A igualdade com singularidade: todos os Espíritos são essencialmente iguais — seres livres, com origem divina,  destinação  transcendente  e potencialmente  bons  — mas  todos  os  Espíritos  são  únicos  — seres singulares,  com potencialidades diversas, múltiplas experiências vividas, com histórias e memórias pessoais.

4. A naturalidade: o mundo espiritual é tão natural  quanto  o  mundo  físico, pois  são  facetas  de  uma única realidade.

5. A ação: a aprendizagem se dá pela ação livre -  traduzindo-se em atividades sociais, em  produções estéticas,  intelectuais  ou  manuais.

6. A educação integral: equilíbrio  entre  a  moralidade  e  a  inteligência, entre  a capacidade  de produção estética,  a  racionalidade  e  os sentimentos elevados é essencial para o desenvolvimento harmonioso do Espírito.

Aplicações Práticas:
1. Escola livre e afetiva: considerar as circunstâncias socioculturais locais onde a escola vá se instalar  e ainda  de  se  invocar  a  participação  ativa  e criativa dos membros da comunidade escolar, o que implicará necessariamente em modelos diferenciados... 
... salas convencionais com carteiras e lousa e agrupamentos por séries são abordagens ultrapassadas...
... dando lugar a salas-ambientes,  aulas  ao  ar  livre, laboratórios  de  pesquisa,  mediatecas  avançadas, ...
... e o educando escolherá suas atividades, seus projetos de pesquisa, suas produções, sentindo-se amado e valorizado nos seus talentos singulares, que serão incentivados e aproveitados.

2. Atividades éticas: ações solidárias dentro da própria comunidade escolar e fora dela deverão ser incentivadas em programas definidos e planejados pelos educandos, orientados ou propostos pelos educadores.

3. Produções  estéticas,  sejam  poesias,  canções,  quadros, esculturas pratos deliciosos, jardins floridos, a beleza  gráfica  de  um  trabalho  escrito ou com a ordenação agradável de um ambiente de trabalho – eleva o Espírito, harmoniza-o consigo mesmo, dá-lhe o gosto por buscar a perfeição em todas as  coisas. 

4. Produções intelectuais: refletir,  pesquisar,  debater,  produzir  textos, multimídias… Promover apresentações, visitas, viagens, palestras, intercâmbios… A escola  deve  ser  uma  universidade  em  miniatura, incentivando  a reflexão  crítica  e  o  espírito  científico  e  toda  sorte  de produção intelectual.



5. Abolição de castigos e recompensas: o educador nunca deve punir, mas sempre e incansavelmente procurar tocar a consciência do  educando  e chamá-lo  à  autocorreção, incluindo  se  possível  a reparação do erro praticado.


6. Cultivo da espiritualidade: a  ideia  da  Divindade,  a  certeza  da imortalidade  pessoal  e  o entendimento  da  moral - sem fanatismo religioso e nem de dogmatismo específico; a proposta espírita de Allan Kardec deve ser oferecida àqueles que manifestarem interesse.



7. Autogestão administrativa: os princípios de liberdade e igualdade devem também alcançar as esferas  administrativas  da  escola; o  lucro,  para enriquecimento  pessoal,  não  pode  ser  um objetivo  da  escola - a finalidade da escola tem de ser a educação de todos - corpo docente, discente, membros  da  comunidade,  lideranças.



8. Cogestão pedagógica, escola democrática: todos na escola devem ensinar e aprender. Toda a comunidade escolar  deve  estar  envolvida  num processo  pedagógico.

9. Escola social: a  escola  não pode se isolar,  ilha  social - tem de se estender, engajar-se na solução dos problemas da comunidade, manter vínculos amistosos  e  culturais  com  outras  instituições  locais — religiosas, políticas, não-governamentais.

10. Escola universal: a escola deve se abrir,  estabelecendo  contatos  e estendendo  sua  influência,  igualmente para o mundo e para o universo (aprendizagem  das  línguas e Astronomia, p.ex.)

Referência: 
Dora Incontri. Pedagogia Espírita – um projeto brasileiro e suas raízes. Editora Comenius, São Paulo, 2012.(versão eletrônica da tese de doutorado que deu origem ao livro disponível neste link).

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